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12/11/2001

Cabruera reinventa o Nordeste a sua moda

O quinteto paraibano Cabruera

Quinteto paraibano divulga no Sudeste seu elogiado disco de estréia homônimo, repleto de experimentalismos

Mônica Loureiro (Colaborou Marco Antonio Barbosa)

   O primeiro show oficial da banda Cabruêra já antecipava sua proposta de criatividade: montados em uma carroça puxada por um burro, os integrantes do grupo paraibano se apresentaram para uma platéia de calouros de Comunicação da Universidade Estadual. "Isso foi no dia 26 de março de 99. Três meses depois, fomos convidados a participar do São João de Campina Grande, onde fizemos cinco apresentações", detalha Zé Guilherme, voz e percussão. Daí vieram Sesc São Paulo, Abril Pro Rock (PE), festivais na Europa, Mada (RN) e agora Rio de Janeiro. Radicados no Rio - mais precisamente, apertados em um apartamento no bairro de Copacabana - o grupo agora divulga seu primeiro e homônimo disco, lançado pela Nikita. O show oficial de lançamento foi no Teatro Rival (RJ), na semana passada; nesta sexta (dia 9) eles agitam a noite do Malagueta, tradicional point forrozeiro do Rio.

   Cabruera, o disco, já havia saído ano passado, de forma independente, e agora foi remasterizado e "adotado" pela Nikita. Os seis integrantes trabalham com a percussão como linha de frente e apresentam criativos recursos para diferenciar seu som: caneta Bic, lixa de unha, moringas... Os integrantes do grupo carregam influências completamente divergentes que, no resultado final, acabam soando integradas. "Eu fazia um som pop; Orlando tocava numa banda de hardcore; Zé tem formação clássica; Tom era ligado ao maracatu; Fredi ao chorinho; e Alexandre tocava death metal", enumera Arthur Pessoa (voz, acordeon, violão esferográfico e percussão). Mas uma orientação é comum entre esses cinco paraibanos e um pernambucano: autenticidade.

   "Nós já mudamos coisas de nosso repertório que não achávamos que tivesse a ver com o que a gente queria mostrar. Uma vez, por exemplo, vimos que a meninada cantava na rua um refrão de uma música nossa e que as meninas já estavam até fazendo coreografia! Tratamos de cortá-la do repertório. Fomos fazendo uma lapidação em busca de nossa identidade", revela Orlando Freitas (baixo, craviola, pífano, percussão e vocais). Zé explica algumas mudanças estéticas na proposta da banda: "A gente tinha outro repertorio no início, que foi sendo limado naturalmente. Tinha forró, por exemplo. Nem chegamos a discutir no grupo, mas dizia-se 'vamos tirar essa, aquela'... Eram músicas que beiravam mais o folclore, apelativas, até caindo para o forró universitário - que a gente acha legal para divulgar o forró, mas musicalmente não acrescenta nada. A partir daí a banda foi tracando um perfil e hoje temos uma identidade."

   As 12 faixas alternam músicas instrumentais e outras com o vocalista Arthur Pessoa. Loa de Chegança abre com a participação do Coral Voz Ativa, que dá um tom de procissão à música - eles também cantam em Ciência Nordestina. Um som visionário invade a segunda faixa - Forró Esferográfico -, onde a tal caneta Bic transforma o violão em um misto de rabeca, cello e violino, num tom mais grave. Em Muganzé, Zé Guilherme parece um Antônio Conselheiro paraibano ao recitar seu texto em tom profético. A parte instrumental é tão forte no disco que os vocais chegam até a surpreender, como em Cangaço, quando Arthur só entra lá pela metade da música. Talvez aí esteja o único ponto a ser acertado em um próximo trabalho: a voz de Arthur é forte, contundente, deve ser mais (e melhor) aproveitada.

   Depois de começar ensaiando no DCE da Universidade Federal da Paraíba, pegar caronas para chegar a São Paulo, tocar em congresso de funcionários públicos e outras "aventuras" típicas de bandas em início de carreira - e, principalmente, sem gravadora poderosa por trás - a Cabruêra conquistou um bom público na Paraíba e nos festivais por onde passou. "O disco foi produzido pela gente e por Rosildo Oliveira. Foi um pouco antes de embarcarmos para a Europa. Ainda deu tempo de prensar e levar 300", diz Orlando. "Se a gente tivesse levado mais, teria vendido todos. Já não tinha mais CD no quinto show - e foram 11 apresentações", completa Alexandre Magno (percussão e vocais).

   O grupo encara o contrato com a Nikita como uma parceria. "O Felipe (Llerena, dono da gravadora) foi bem claro com a gente: `nós não vamos ser um pai para vocês, vamos trabalhar juntos'. E é isso mesmo, a gente quer que a gravadora tenha esse papel de difusão, fazendo uma boa distribuição do disco. O resto, estamos por nós mesmos", afirma Zé Guilherme. Vontade de trabalhar é que não falta: os seis se mudaram há um mês para o Rio, e ainda penam um pouco para se adaptar. "Ainda nem temos local para ensaiar", diz Tom Rocha (percussão e vocais).

   Segundo Orlando, quem ouviu o disco vai perceber grandes diferenças no show ao vivo. "Estamos em uma nova fase, que traz desafios diferentes. Fomos amadurecendo, experimentando novas sonoridades", diz. Além das 12 músicas do CD - incluindo Forró Esferográfico, Certo Sertão e Pontal - o show inclui algumas composições inéditas. As experimentações foram mantidas: caneta como arco de violão, baixo e viola com varetas, lixa de unha na bateria são algumas "particularidades" no ousado e diferente som da Cabruêra.

   Alexandre esclarece como as sonoridades pouco usuais foram sendo incorporadas: "A gente só foi experimentando. O que cada um tocava e se interessava, ia adotando. Chegou então o pifano, a viola de 12 cordas, depois o berimbau... A gente nunca teve preconceito nenhum. A sonoridade é acústica, não tem teclado nem samplers, mas tem um peso, uma pegada de rock. Usamos uma moringa que quebrou, mas podemos voltar a usar. Todas as estripulias que a gente faz são espontâneas, não tem direção de palco, marcação."
CliqueMusic.com.br)


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